Uso de tesourinhas no controle biológico de pragas do milho




O controle biológico aplicado, que é parte integrante e fundamental no Manejo Integrado de Pragas (MIP), depende do desenvolvimento de técnicas para criação e multiplicação massal de inimigos naturais específicos das pragas que se deseja controlar. Esses insetos predadores podem ser multiplicados em laboratório e utilizados em cultivos agrícolas, como alternativa segura e sustentável de restabelecer o equilíbrio entre as populações de insetos-praga e inimigos naturais, afetados devido ao manejo inadequado ou uso indiscriminado de inseticidas sintetizados. 

O estudo e a divulgação de novas técnicas de criação massal de insetos benéficos tornam-se fundamental para implementação de programas de controle biológico em áreas de culturas agrícolas. 

Partindo do princípio de que o controle biológico possa ser integrado de forma eficiente nos programas de manejo de pragas agrícolas, o grupo de Experimentação e Pesquisa em Manejo Integrado de Pragas (EPMIP), da Universidade Federal do Piauí, Campus Cinobelina Elvas – CPCE vem desenvolvendo atualmente, pesquisas em manejo de inimigos naturais, a fim de viabilizar a criação de tesourinhas predadoras, Doru luteipes (Scudder, 187) (Dermaptera: Forficulídeo), objetivando contribuir com os avanços para melhoria dos programas de manejo de pragas agrícolas na cultura do milho. O estudo que vem sendo realizado pelo grupo EPMIP sobre o manejo e ciclo de vida de tesourinhas visa aumentar o leque de possibilidades para o produtor rural manejar pragas na cultura do milho, por meio de práticas de controle biológico aplicado.

Metodologia de criação
                                                                             
                                                             Foto: pixabay.com/photos/earwig-earwi

Para se conhecer as peculiaridades da espécie Doru luteipes, uma criação do predador vem sendo mantida no Laboratório de Proteção de Plantas localizada na UFPI/CPCE. Os insetos utilizados na criação são oriundos de coletas em campos de milho da região do vale do Gurguéia. Após a coleta as tesourinhas foram colocadas em placas de petri revestidas com papel toalha umedecido e mantidas em ambiente controlado, dentro de BODs, à temperatura constante de 25ºC. Os insetos são alimentados com dieta a base de farelo de milho, soja e leite pó. A manutenção da criação se dá pela troca do papel tolha e adição de nova dieta a cada dois. 


Após a postura e eclosão das ninfas, canudos de plásticos (0,5 cm de diâmetro x 6,0 cm de comprimento) são disponibilizados no interior da placa de petri com uma das extremidades fechadas com algodão umedecido para que a fêmea possa realizar postura em ambiente úmido. Após atingir o segundo ou terceiro instar as ninfas são separadas da mãe, pois a mesma passa a não reconhecer as ninfas como sua prole e pode ocorrer o fenômeno de canibalismo.


Parâmetros Biológicos de D. luteipes
                                                                       
Foto: wikipedia.org/wiki/Dermaptera
  
O período de incubação de D. luteipes ocorre, em média, de 7,6 dias, aproximando-se do encontrado por Reis et aI. (1988) que foi de 7,3 dias, quando o predador foi criado com ovos de S. frugiperda. O período ninfal é de 34 dias, em média, apresentando cinco instares. O período pré-reprodutivo é em torno de 30 dias, podendo chegar até 51 dias.Observou-se que a duração de cada ínstar não variou muito, ficando aproximadamente entre oito a 10 dias, o que pode ser observado pela presença de exúvia no interior das placas de petri.  Durante o período de oviposição as fêmeas ovipositam mais de uma vez, mesmo não havendo necessidade de nova cópula com o macho. Os ovos ficam agrupados e a fêmea permanece em cima limpando-os constantemente, da eclosão até o segundo e/ou terceiro ínstar das ninfas.

Capacidade Predatória de D. luteipes
                                                                       
                              Foto: Boris Loboda, barry.fotopage.ru/gallery/show_image.php?Imageid=8833
Durante todo o ciclo de vida das tesourinhas ocorre um consumo crescente de ovos de e larvas de S. frugiperda do primeiro ao último ínstar, podendo ser observado um aumento de aproximadamente duas vezes a cada ínstar. No campo tesourinhas são encontradas dentro do cartucho de plantas de milho, local onde elas encontram temperatura e umidade adequada para o seu desenvolvimento e caçam e consomem ovos e larvas de S. frugiperda e ninfas de pulgões. 

Doru luteipes é um dos inimigos naturais mais importantes na supressão de pragas na cultura do milho, suas ninfas podem consumir diariamente cerca de 10 ovos e/ou lagartas de S. frugiperda, e os adultos podem consumir diariamente 20 lagartas de primeiro e segundo ínstar. 
Em experimentos realizados pela EMBRAPA N/Centro Nacional de Pesquisa de Milho e Sorgo, em Sete Lagoas, MG, o número de ovos consumidos por dia por tesourinhas em cada ínstar foi de 4,6 no primeiro ínstar chegando até 45,3 ovos no quarto ínstar, totalizando 434,5 ovos consumidos pela tesourinha neste ínstar segundo os resultados obtidos. Contudo, experimentos quantitativos, para observar o consumo diário de ovos e larvas de Spodoptera frugiperda ainda não foram realizados pelo grupo de pesquisa EPMIP. Até o presenlte momento, foram realizados ensaios prévios a fim de observar a atratividade de Duru luteipes sobre ovos e larvas de primeiro ínstar. 

CRUZ et al. (1995) verificaram que D. luteipes, ao longo de sua vida, pode se alimentar de até 8.276 ovos de Helicoverpa zea (39 ovos/dia), podendo ser considerada capaz de suprimir a referida praga na cultura do milho. Deste modo, muitos estudos sobre o uso de tesourinhas ainda precisam ser realizados para que se possa ter melhores resultados sobre sua capacidade de uso nos programas de Manejo Integrado de Pragas na cultura do milho e assim, poder contribuir com o produtor na tomada de decisão no controle de pragas.

Referências

CRUZ, I., ALVARENGA, C. D., & FIGUEIREDO, P. E. F. Biologia de Doru luteipes (Scudder) e sua capacidade predatória de ovos de Helicoverpa zea (Boddie). Anais da Sociedade Entomológica do Brasil, n.24, p.273-278. 1995.
CRUZ, I. Controle biológico de pragas na cultura de milho para produção de conservas (Minimilho), por meio de parasitóides e predadores. Sete Lagoas: CNPMS, 2007. V.91, 16p. (Circular Técnica, Embrapa Milho e Sorgo). 2007.
SAMWAYS, M. J. Controle biológico de pragas e ervam daninhas. São Paulo:
E. P. U., 1989. v.34, 66p.

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